quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Leve, cama

Caixa de pandora

Grama

Luz verde no céu

Seu

Olhar, sorriso

Beijo no ar

Sonho, abraço

Laço

MAIS


Nevoeiro.

(via @breveshistorias)

Havia qualquer coisa de misteriosa nele - ou ao menos ela queria ver assim. É o mistério que, como névoa, encobria o real e lhe dava novos contornos, talvez mais interessantes que os usuais.

E aquela “abertura”, aquelas reticências é que instigavam. Queria saber o que viria depois. Queria o conteúdo da névoa.

Por isso, todas as noites, mesmo depois de notar que ele se distanciara, ela aguardava o bipe do telefone anunciando uma nova mensagem. Um oi, um nunca mais. Um feixe de luz imerso na névoa.

Mas ele perdera-se em seu próprio mistério.

Um soluço.


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

RT @breveshistorias: À @dani_design | Quando deixou de alimentar a saudade encontrou um novo amor.

Eram menos de 140 caracteres. Um amontoado de pixels. Breves.

E a saudade, assunto em questão, a sugar, alimentar-se de mim. Parasita.

Saudade sem objeto direto. Saudade, apenas.

Talvez de palavras, de olhares, cheiros, de substâncias que meus sentidos foram apreendendo do mundo ao longo dos anos e que, mesmo sabendo-as efêmeras, quis prolongar. Em contraste, mais uma vez a verdade se apresentava ali: seca, serifada, séria.

Diante dela poderia decidir - construir minha própria verdade, discordar ou incorporá-la, em todas suas agruras.

Optei pela fusão. Quisera construir-me de verdades, conceber mudanças e amamentá-las de minha liquidez.

Se era desejo encontrar um novo amor, não sabia. Sempre fui cercada de novos amores antigos. Saudosimo contrário às minhas unhas, meu cabelo, minhas atitudes modernas.

Mantera preservada, a sete chaves minha inocência, meu romantismo e a vício diário de procurar poesia no mundo. Talvez por isso, involuntarimente, alimentei a saudade.

Nesta noite, porém, optei pelo RT.

Morra de fome, saudade!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Conhecido

Barulho lá fora. E uma luz insistente atravessando o opaco da Cortina azul. Como pulsação, metáfora, constância.

A cama, dentro, parece girar em torno de seu eixo, sem eixo. Um imenso caleidoscópio de confusões, desesperos, cores. Nas narinas, o cheiro da pérola, na ponta dos dedos o tracejado de outros textos. Resquícios insistentes e furtivos. Chamados, desejos.

Mas a conversa é outra: um choque entre as personalidades. Palavras provocadoras, afrodisíacas. Corpos separados pela distância física, irritante.

Conversas mediadas, antigas; várias vezes seguidas pela minha irritação pelo meu incômodo e pela vontade do nunca mais.

Sentimentos efêmeros.

Vejo-me, noutro dia, presa à mesma teia, aos mesmos impasses e, agora, aos mesmos desejos.

Já viu o mar. E coleciona retratos e relatos e breves histórias. Lê, entende da vida e dos projetos de vida. Filosofa, discorda critica, sempre.

E é essa criatura que eu, pérola urbana e furta-cor, extremo oposto, desejo comigo nesta noite. Com as inquietudes, com as contradições. Quero o beijo, o retrato, a lambida.

A mordida até verter esse grito insistente que de mim discorda.

Quero o passeio pelas texturas, pelo mamilo. Uma parada em algum ponto que lhe faça gemer e que me irrigue, corpo e alma, com fluídos do desejo.

Quero o voltar para a boca, o entrelaçar das linguas e das diferenças, as brincadeiras, o toque e o cafuné. Quero esse momento, doce e selvagem.

Quero-lhe duro. Para que penetremo-nos corpo. Penetremos as almas, no movimento insistente dessa luz que atravessa minha janela.

Quero gemer de prazer, incomodar a vizinhança, brincar com tempo, quebrar a cama, sujar as roupas, manchar a mácula. Que você me adentre por uns instantes, que sintamos o encaixe, destaque, diverso.

Que sejamos unos e falemos, sem palavras, a mesma lingua, para depois descansarmos dos desejos e dormir num abraço de opostos…

Pedidos

Anoto os pedidos do desconhecido.

Vou destrinchando, um a um.

Preenchendo vazios, inventando cores,

Transparências

Re vi ven do.

E, naquelas texturas,

Aqueles óculos

Aquela voz

Um pedaço

(des) conhecido de mim

Preenchendo noites

Tirando o sono

Secando os olhos

Apagando rotinas

Até o fim.

Fim.